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segunda-feira, abril 07, 2008

Pablo Neruda

De mim e de minhas asas


Hoje falo de asas,
Da vontade de voar.
Falo também de um sonho,
De outros rumos tomar.

Não quero asas como ícaro,
Muito menos ao sol chegar.
Não me iludo da fama aos píncaros,
Nem desejo mesmo voar.

Falo agora das asas da liberdade
Perdida por cada um de nós.
Quando vivemos a vida escolhida,
Por não sermos mais sós.

Somos seres sociais,
Ao vizinho devemos razões.
Deixamos de ser animais
E perdemos nossas opções.

Não quero asas pra voar.
Tenho pernas que me levam.
A elas tenho presos grilhões,
Que minha liberdade me negam.

Parentes, tarefas, compromissos,
Teto e razões do sistema,
Que me prendem ao social
E de liberdade diz-se ser lema.

Liberdade é ir e vir,
É dizer o que se pensa.
Liberdade é poder fugir,
Não ter credo e não ter crença.

Liberdade é poder crer,
Ou não crer no que quiser.
Relacionar-se sexualmente,
Na opção que lhe convier.

Liberdade é dar respeito
E respeitar ao seu igual.
Liberdade é dar o direito
E recebe-lo ao natural.

Use asas voe alto.
Use pernas e caminhe.
Cante, grite, encene um ato,
Mesmo até que desafine.
Só não esqueça de uma coisa,
Que pra ser livre é importante.
Teu caminho sempre pára,
Se houver outro adiante.

Você é livre pra ajudar,
Razoar e dividir.
Liberdade é união
De algum mundo construir.

Reclamei do social
E agora descobri.
De que adianta se ser livre,
Se não tenho com quem dividir?

Sei então que liberdade,
É só questão de direito.
Respeitar ao seu irmão
E dele obter respeito.

Tem valor então a lenda,
De uma asa somos pássaros.
Para termos liberdade,
Precisamos dar os braços.

Liberdade, liberdade,
Abre as asas sobre nós
Liberdade não existe,
Se estivermos sós... se vivermos sós!

quarta-feira, março 12, 2008

Pablo Neruda

DESDE QUE TU TE FOSTE...
(de O Rio Invisível - tradução de Rolando Roque da Silva)

Desde que tu te foste, experimento a amargura
infinita de haver-te calado tantas coisas:
de haver calado, mártir, esta branda ternura
que ocultei como é possível ocultar as rosas,

e de não te haver dito as palavras fragrantes
que eu trazia na boca cuidadas e submissas;
que esperei tantas vezes deixar sair vibrantes
mas sempre se gelaram num perverso sorriso.

Agora que te foste sofro o pesar intenso
de haver calado, mártir de mim mesmo, o imenso
tesouro de doçura que floresceu em amor.

Mas sei que se voltasses um dia à minha vida,
ao procurar em vão minhas palavras perdidas...
selaria os meus lábios o secreto amargor.

Pablo Neruda

POEMA NUMERO 15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e minha voz não te toca.
Parece que teus olhos houvessem saltado
e parece que um beijo fechara a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias de minh'alma
emerges das coisas cheia de alma, a minha.
Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,
como pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como a queixar-te, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:
permite que eu me cale com teu silêncio agudo.

Permite que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada e simples como um elo.
Tu és como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, afastado e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se estivesses morta.
Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.
E fico alegre, alegre porque a verdade é outra.

Pablo Neruda

" Nós perdemos também este crepúsculo.
Ninguém nos viu à tarde com as mãos unidas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Vi, de minha janela
a festa do poente nos montes distantes.

Às vezes, qual moeda,
acendia-se um pouco de sol em minhas mãos.

Eu te recordava com a alma apertada
por esta tristeza que conheces em mim.

Então, onde estarias ?
Junto a que gente ?
Dizendo que palavras ?
Por que há de vir todo este amor de um golpe
quando me sinto triste e te sinto distante ?

Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo,
e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
até onde o crepúsculo corre apagando estátuas."

domingo, março 09, 2008

Pablo Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu o amei, e às vezes ele também me amou.
Em noites como esta eu o tive entre os meus braços.
Beijei-o tantas vezes sob o céu infinito.
Ele me amou, às vezes eu também o amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não o tenho. Sentir que o perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ele.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-lo.
A noite está estrelada e ele não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta.
Ao longe. Minha alma não se contenta com tê-lo perdido.
Como para aproximá-lo o meu olhar o procura.
Meu coração o procura, e ele não está comigo.
A mesma noite qeu fez branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não o amo, é verdade, mas quanto o amei.

Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não o amo, é verdade, mas talvez o ame.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu o tive entre os meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-lo perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ele me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

sexta-feira, março 07, 2008

Farewell

Farewell

1
Do fundo de ti, e ajoelhada,
Uma criança triste, como eu, nos olha.

Por essa vida que arderá nas suas veias
teriam que se amarrar as nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas mãos
teriam que matar as minhas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra
verei nos teus lágrimas um dia.

2
Eu não o quero, amado

Para que nada nos amarre,
que não nos una nada.

Nem a palavra que aromou da tua boca,
nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto a janela.

3
(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e vão-se embora.

Deixam uma promessa
Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e vão-se embora

Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar)

4
Amo o amor que se reparte
Em beijos, leito e pão

Amor que pode ser eterno
e pode ser fugaz

Amor que quer se libertar
para tornar a amar.

Amor divinizado que se aproxima
Amor divinizado que se vai.

5
Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui tua, foste meu. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui tua, foste meu. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.


Pablo Neruda

Pablo Neruda

"Para o meu coração basta o teu peito,
para que tu sejas livre bastam minhas asas.
Da minha boca chegará até o céu,
o que adormecido estava em tua alma."

Pablo Neruda

SE VOCÊ ME ESQUECER

Quero que você saiba uma coisa
Você sabe como é:
Se eu olhar a lua de cristal, pelo galho vermelho
do lento outono em minha janela,
Se eu tocar, próximo ao fogo, a intocável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva a você,
como se tudo o que existe: perfumes, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
rumo às tuas ilhas que me esperam.

Bem, agora,
se pouco a pouco você deixar de me amar
eu deixarei de te amar, pouco a pouco.

Se, de repente, você me esquecer
não me procure
pois já terei te esquecido.

Se você considera longo e louco
o vento das bandeiras
que passa pela minha vida,
e decide me deixar na margem do coração em que tenho raízes,
lembre-se que neste dia, nesta hora,
levantarei meus braços
e minhas raízes sairão a buscar outra terra.

Mas
Se cada dia, cada hora,
você sentir que é destinado a mim
com implacável doçura,
se cada dia uma flor
escalar os teus lábios a me procurar,
ah meu amor, ah meu próprio eu,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem é esquecido
meu amor se nutre no seu amor, amado,
e enquanto você viver, estará você em seus braços,
sem deixar os meus.

Pablo Neruda

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
Já não se adoçará junto a ti a minha a dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
E para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
Uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
Daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

domingo, fevereiro 24, 2008

Pablo Neruda

"Amor meu,
me compreende,
te quero todo,
dos olhos aos pés, às unhas,
por dentro,
toda a claridade, a que guardavas.

Sou eu, meu amor,
quem golpeia tua porta.
Não é o fantasma, não é
o que antes se deteve
defronte da tua janela.

Eu ponho a porta abaixo:
entro em toda a tua vida:
venho viver em tua alma:
tu não podes comigo.

Tens que abrir porta a porta,
tens que abrir os olhos
para que eu busque neles,
tens que ver como ando
com passos pesados
por todos os caminhos
que, cegos, me esperavam.

Não me temas,
sou tua,
mas
não sou o passageiro nem o mendigo,
sou o que tu esperavas,
e agora entro
em tua vida,
para não sair mais,
amor, amor, amor,
para ficar."


De Los versos del capitán - NERUDA

quarta-feira, outubro 24, 2007

Pablo Neruda

O poço(...)

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

domingo, outubro 14, 2007

Pablo Neruda

" .... Deixa que o vento corra, coroado de espuma, que me chame e me busque galopando na sombra, enquanto eu, mergulhado nos teus imensos olhos, nesta noite imensa, descansarei, meu amor..."

quarta-feira, junho 27, 2007

Pablo Neruda

"Não te quero a não ser porque te quero
e de te querer a não te querer chego
e de te esperar quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Só te quero porque é a ti quem quero,
sem fim te odeio, e com ódio te peço,
e a medida do amor meu, viageiro,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consuma a luz de janeiro, seu raio cruel, meu coração,
de mim roubando a chave do sossego.
Nessa história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo."

- Cem sonetos de amor -