quinta-feira, julho 31, 2008

Shakespeare

Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo e doente;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas, duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.

(Soneto LXXXVIII W.S)

quarta-feira, julho 30, 2008

Shakespeare

Eu, de mim, considero-me mais ou menos honesto, mas poderia acusar-me de tais coisas que teria sido melhor que minha mãe não me tivesse concebido. Sou orgulhoso, vingativo, cheio de ambição, com mais pecados ao meu alcance do que pensamentos para concebê-los, imaginação para dar-lhes forma ou tempo para realizá-los. Para que rastejarem entre o céu a terra tipos como eu? Somos todos grandes canalhas.

Shakespeare
(Hamlet -- Ato III -- Cena I )

segunda-feira, julho 28, 2008

Friedrich Nietzsche

"Conheço muito bem as qualidades que devo ter para que alguém me compreenda, aquelas que necessariamente o forçam a compreender-me. Para suportar a minha seriedade e a minha paixão é preciso ser íntegro nas coisas de espírito até às últimas consequências; estar acostumado a viver nas montanhas, a ver abaixo de si o mesquinho charlatanismo atual da política e do egoísmo dos povos; e, finalmente, ter-se tornado indiferente e jamais perguntar se a verdade é útil, se chegará a ser uma fatalidade...
Necessária é também uma inclinação para enfrentar questões que hoje ninguém se atreve a elucidar; inclinação para
o proibido; predestinação para o labirinto. É preciso que tenham uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para uma música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até hoje permanecem mudas. ..."