segunda-feira, abril 07, 2008

cora coralina

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida...
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida...

Renault

Balada da Irremediável Tristeza

Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...

A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

Robert Frost

"Fire and Ice.
Some say the world will end in fire, Some say in ice. From what I’ve tasted of desire I hold with those who favor fire. But if it had to perish twice, I think I know enough of hate To say that for destruction ice Is also great And would suffice."

Fogo e Gelo.
O mundo findará em fogo, ouço aqui,
Em gelo, ouço ali.
Conheço bem o desejo, logo Sou a favor do fim em fogo.
Mas se houvesse dois finais,
Creio que sei do ódio a ponto De afirmar: ao destruir, o gelo Funciona bem; Não fica aquém.

Anna D´castro

Sou várias, em várias de mim...
Sei, porque eu me conheço
Mas nem sempre reconheço
Porque terei de ser assim.

Tem horas que sou como rocha
Uma matéria impenetrável...
Outras, fico tão frágil
Toda eu sou maleável!

Em permanente conflito
Vivo nesse labirinto
Às vezes, solto meu grito
Quando não sou o que sinto.

Mas quando fico nervosa
Mostro como estou carente
Tal como pétala de rosa
Em mão inconsequente.

Não quero mostrar minha dor
Fica presa na garganta
Prefiro falar de amor
Dar leveza e graça tanta.

E nessas várias de mim
Tenho a alma como o vento:
- eterna, rebelde ou branda -
E a chama que crepita sem fim...
É a única que me comanda!

Pablo Neruda

De mim e de minhas asas


Hoje falo de asas,
Da vontade de voar.
Falo também de um sonho,
De outros rumos tomar.

Não quero asas como ícaro,
Muito menos ao sol chegar.
Não me iludo da fama aos píncaros,
Nem desejo mesmo voar.

Falo agora das asas da liberdade
Perdida por cada um de nós.
Quando vivemos a vida escolhida,
Por não sermos mais sós.

Somos seres sociais,
Ao vizinho devemos razões.
Deixamos de ser animais
E perdemos nossas opções.

Não quero asas pra voar.
Tenho pernas que me levam.
A elas tenho presos grilhões,
Que minha liberdade me negam.

Parentes, tarefas, compromissos,
Teto e razões do sistema,
Que me prendem ao social
E de liberdade diz-se ser lema.

Liberdade é ir e vir,
É dizer o que se pensa.
Liberdade é poder fugir,
Não ter credo e não ter crença.

Liberdade é poder crer,
Ou não crer no que quiser.
Relacionar-se sexualmente,
Na opção que lhe convier.

Liberdade é dar respeito
E respeitar ao seu igual.
Liberdade é dar o direito
E recebe-lo ao natural.

Use asas voe alto.
Use pernas e caminhe.
Cante, grite, encene um ato,
Mesmo até que desafine.
Só não esqueça de uma coisa,
Que pra ser livre é importante.
Teu caminho sempre pára,
Se houver outro adiante.

Você é livre pra ajudar,
Razoar e dividir.
Liberdade é união
De algum mundo construir.

Reclamei do social
E agora descobri.
De que adianta se ser livre,
Se não tenho com quem dividir?

Sei então que liberdade,
É só questão de direito.
Respeitar ao seu irmão
E dele obter respeito.

Tem valor então a lenda,
De uma asa somos pássaros.
Para termos liberdade,
Precisamos dar os braços.

Liberdade, liberdade,
Abre as asas sobre nós
Liberdade não existe,
Se estivermos sós... se vivermos sós!
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dele é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dele que não sei como o desejar.