Confesso que me dá uma saudade irracional de você.
E tenho vontade de voltar atrás, de ligar, de te dizer mil coisas,
e cair em suas mãos, sem me importar com nada,
simplesmente entregar-te meu coração.
Mas não, renuncio, me controlo e digo
para mim mesmo que não é assim,
que não pode ser, que você se foi, e não volta.
terça-feira, agosto 09, 2011
Porto Alegre, 22/1/96
Praia do Rosa
"Príncipe artesão etrusco/ colocou no meu pulso esquerdo/ um bracelete prata pedra rude ágata – esmeralda:/ cor exata do seu olhar e do mar,/ suas costas nos seus olhos.
Obrigado: falei.
E quando me ia, olhos baixos, ele disse: “um beijo”. Depois tocou na ferida do meu ombro oposto ao que tocara antes, fechando meu corpo em seta para o infinito.
Pela primeira vez em dois anos senti tanta mágoa e pena de ser o leproso de Cartago. Não posso dar-lhe Thanatos como se Eros fosse.
Isso não dói. Seu bracelete é bálsamo na minha pele em frangalhos."
Praia do Rosa
"Príncipe artesão etrusco/ colocou no meu pulso esquerdo/ um bracelete prata pedra rude ágata – esmeralda:/ cor exata do seu olhar e do mar,/ suas costas nos seus olhos.
Obrigado: falei.
E quando me ia, olhos baixos, ele disse: “um beijo”. Depois tocou na ferida do meu ombro oposto ao que tocara antes, fechando meu corpo em seta para o infinito.
Pela primeira vez em dois anos senti tanta mágoa e pena de ser o leproso de Cartago. Não posso dar-lhe Thanatos como se Eros fosse.
Isso não dói. Seu bracelete é bálsamo na minha pele em frangalhos."
segunda-feira, agosto 08, 2011
Lisbon Revisited
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
sábado, agosto 06, 2011
“-Oi-tudo-bem-e-aí-tô-ligando- pra-saber-se-você-vai-fazer-al guma-coisa-hoje-à-noite.
Como se a gente tivesse obrigação de fazer alguma coisa toda noite. Só porque é sábado.
Essa obsessão urbanóide de aliviar a neurose a qualquer preço nos fins de semana, pode? Tenho vontade de dizer nada, não vou fazer absolutamente nada. Só talvez, mais tarde, se estiver de saco muito cheio, tentar o suicídio com uma dose excessiva de barbitúricos, uma navalha, um bom bujão de gás ou algo assim.
Se você quiser me salvar, esteja à gosto, coração.”
Como se a gente tivesse obrigação de fazer alguma coisa toda noite. Só porque é sábado.
Essa obsessão urbanóide de aliviar a neurose a qualquer preço nos fins de semana, pode? Tenho vontade de dizer nada, não vou fazer absolutamente nada. Só talvez, mais tarde, se estiver de saco muito cheio, tentar o suicídio com uma dose excessiva de barbitúricos, uma navalha, um bom bujão de gás ou algo assim.
Se você quiser me salvar, esteja à gosto, coração.”
“Acho que não precisava ser assim. É tudo tão forte, tão profundo, tão bonito, não precisava doer como dói. Eu não podia apenas sorrir quando me lembrasse de você? Mas acontece tipo assim: lembro do seu rosto, do seu abraço, do seu cheiro, do seu olhar, do seu beijo e começo a sorrir, é assim mesmo, automático, como se tivesse uma parte do meu cérebro que me fizesse por um instante a pessoa mais feliz do mundo, mas que só você, de algum modo, fosse capaz de ativar. Eu sei, é lindo. Mas logo em seguida, quando penso em quão longe você está sinto-me despedaçar por inteiro. Sabe a sensação de arrancar um doce de uma criança? Pois é, sou essa criança. E dói. Uma dor cujo único remédio é a sua presença. Então sigo assim, penso em você, sorrio, sofro e rezo, peço pra Deus cuidar da gente, amenizar essa dor e trazer logo a minha cura.”
quinta-feira, agosto 04, 2011
segunda-feira, agosto 01, 2011
SUGESTÕES PARA ATRAVESSAR AGOSTO
Pra atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro – e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.
É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah! Escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Assinar:
Postagens (Atom)