domingo, agosto 31, 2008

Nieztsche

"Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos? Com razão alguém disse: "onde estiver teu tesouro, estará também teu coração". Nosso tesouro está onde estão as colméias do nosso conhecimento. Estamos sempre a caminho delas, sendo por natureza criaturas aladas e coletoras do mel do espírito, tendo no coração apenas um propósito - levar algo "para casa". Quanto ao mais da vida, as chamadas "vivências", qual de nós pode levá-las a sério? Ou ter tempo para elas? Nas experiências presentes, receio, estamos sempre "ausentes": nelas não temos nosso coração - para elas não temos ouvidos... Pois continuamos necessariamente estranhos a nós mesmos, não nos compreendemos, temos que nos mal-entender e a nós se aplicará para sempre a frase: "Cada qual é o mais distante de si mesmo?"
"Só cabe aos que me reprovam refletir um pouco e depois pedir desculpas a si mesmos. Não preciso de uma palavra para a minha defesa".

" A ideia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más."

Caio Fernando Abreu

"Quando olho para mim mesmo, não gosto do que vejo. Mas quando olho para você, gosto muito menos. Os amigos desaparecem no momento exato em que você precisa deles. O mundo te machuca. Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração insiste e ainda bate. Quando não se tem mais nada a perder vejo que o futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado, e nosso porto é desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim. Não peço porque não acredito em mais nada."

terça-feira, agosto 12, 2008

Friedrich Nietzsche

(...) Ainda hoje te atormenta a multidão; ainda conservas o teu valor e as tuas esperanças todas.
Um dia, contudo, te fatigará a soledade, se abaterá o teu orgulho e cerrarás os dentes.
Um dia clamarás: “Estou só!”
Chegará um dia em que já não vejas a tua altura, e em que a tua baixeza esteja demasiado perto de ti. A tua própria sublimidade te amendrontará como um fantasma.
Um dia gritarás: “Tudo é falso!”
Há sentimentos que querem matar o solitário. Não o conseguem? Pois eles que morram! Mas, serás tu capaz de ser assassino?
Meu irmão, já conheces a palavra “desprezo”? E o tormento da justiça de ser justo para com os que te menosprezam?
Obrigas muitos a mudarem de opinião a teu respeito; por isso te consideram. Abeiraste-te deles e, contudo, passaste adiante; é coisa que te não perdoam.
Elevaste-te acima deles; mas quanto mais alto sobes, tanto mais pequeno te vêm os olhos da inveja. E ninguém é tão odiado como o que voa.
“Como quereríeis ser justo para comigo! — assim é que deves falar. — Eu elejo para mim a vossa injustiça, como lote que me está destinado”.
Injustiça e baixeza é o que eles arrojam ao solitário; mas, meu irmão, se queres ser uma estrela, nem por isso os hás de iluminar menos.
E livra-te dos bons e dos justos! Agrada-lhes crucificar os que invejam a sua própria virtude: odeiam o solitário.
E livra-te ainda assim da santa simplicidade! A seus olhos não é santo o que é simples, e apraz-lhe brincar com fogo... das fogueiras.
E livra-te também dos impulsos do teu amor! O solitário estende depressa demais a mão a quem encontra!
Há pessoas a quem não deves dar a mão, mas tão somente a pata, e além disso desejo que a tua pata tenha garras.
O pior inimigo, todavia, que podes encontrar, és tu mesmo; lança-te a ti próprio nas cavernas e nos bosques.
Solitário, tu segues o caminho que te conduz a ti mesmo! E o teu caminho passa por diante de ti e dos teus sete demônios.
Serás herege para ti mesmo, serás feiticeiro, adivinho, doido, incrédulo, ímpio e malvado.
É mister que queiras consumir-te na tua própria chama. Como quererias renovar-te sem primeiro te reduzires a cinzas?
Solitário, tu segues o caminho do criador: queres tirar um deus dos teus sete demônios!
Solitário, tu segues o caminho do amante: amas-te a ti mesmo, e por isso te desprezas, como só desprezam os amantes.
O amante quer criar porque despreza! Que saberia do amor aquele que não devesse menosprezar justamente o que amava?
Vai-te para o isolamento, meu irmão, com o teu amor e com a tua criação, e tarde será que a justiça te siga claudicando.
Vai-te para o isolamento com as suas lágrimas, meu irmão. Eu amo o que quer criar qualquer coisa superior a si mesmo e dessa arte sucumbe”.
(...)

[Friedrich Nietzsche, meu mestre.]

segunda-feira, agosto 04, 2008

Shakespeare

•• "Nada ganhamos, não, mas, ao contrário, tudo perdemos quando o que queríamos, obtemos sem nenhum contentamento: Mais vale ser a vítima destruída do que, por a destruir, destruir com ela o gosto de viver. Não nos preocupe o que não tem remédio. O que está feito, está feito."

Friedrich Nietzsche



• Para suportar a minha seriedade e a minha paixão é preciso ser íntegro nas coisas de espírito até às últimas consequências ... Necessária é também uma inclinação para enfrentar questões que hoje ninguém se atreve a elucidar; inclinação para o proibido; predestinação para o labirinto. É preciso ter uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para uma música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até hoje permanecem mudas...