quinta-feira, março 13, 2008

Antoine de Saint-Exupéry

”Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.”

“As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Mas todas essas estrelas se calam.

Tu porém, terás estrelas como ninguém… Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir!

E quando te houveres consolado (a gente sempre se consola), tu te sentirás contente por me teres conhecido. Terás vontade de rir comigo. E abrirás às vezes a janela à toa, por gosto… E teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!” E eles te julgarão maluco.

Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla.”

”Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”


Sylvia Plath

E há um preço, um preço muito alto
Para cada palavra ou um toque
Ou uma gota de sangue

Ou um trapo ou uma mecha de cabelo.
E então, Herr Doktor.
E então, Herr Inimigo.

Sou sua opus
Seu tesouro,
Seu bebê de ouro puro

Que se derrete num grito.
Ardo e me viro.
Não pense que subestimei sua imensa consideração.

Cinzas, cinzas
Você remexe e atiça.
Carne, ossos, não há nada ali

Barra de sabão,
Anel de noivado,
Prótese de ouro.

Herr Deus, Herr Lúcifer,
Cuidado
Cuidado.

Renascida das cinzas
Subo com meus cabelos ruivos
E como homens como ar.

Federico Garcia Lorca

Se minhas mãos pudessem despetalar


Pronuncio teu nome
nas noites bem escuras
quando chegam os astros
para beber na lua
e dormem as ramagens
das árvores ocultas.
Sinto-me esvaziado
de paixão e de música.
Louco relógio canto
mortas horas antigas.

Pronuncio teu nome,
nesta noite sombria,
e teu nome me soa
mais longe do que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente do que a mansa chuva.

Como então te amarei
alguma vez? Que culpa
tem o meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que, outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
despetalar a lua!!

Federico Garcia Lorca

Morreu ao Amanhecer

Noite de quatro luas
e uma só árvore,
com uma sombra só
e um só pássaro.

Busco em minha carne as
marcas de teus lábios.
A fonte beija o vento
sem tocá-lo.

Levo o Não que me deste,
da minha mão na palma,
como um limão de cera,
quase branco.

Noite de quatro luas
e uma só árvore.
Na ponta duma agulha,
está meu amor, girando!

Jorge Luís Jorge

Já somos o esquecimento que seremos,
A poeira elementar que nos ignora,
Que não foi Adão e que é agora
Todos os homens.
Somos apenas duas metades:
A do princípio e a do término.
Não sou o insensato que se aferra
Ao mágico som de seu próprio nome.
Penso com esperança naquele homem que
Não saberá o que fui sobre a terra.
Abaixo do indiferente azul do céu,
Esta meditação é um consolo.

quarta-feira, março 12, 2008

Pablo Neruda

DESDE QUE TU TE FOSTE...
(de O Rio Invisível - tradução de Rolando Roque da Silva)

Desde que tu te foste, experimento a amargura
infinita de haver-te calado tantas coisas:
de haver calado, mártir, esta branda ternura
que ocultei como é possível ocultar as rosas,

e de não te haver dito as palavras fragrantes
que eu trazia na boca cuidadas e submissas;
que esperei tantas vezes deixar sair vibrantes
mas sempre se gelaram num perverso sorriso.

Agora que te foste sofro o pesar intenso
de haver calado, mártir de mim mesmo, o imenso
tesouro de doçura que floresceu em amor.

Mas sei que se voltasses um dia à minha vida,
ao procurar em vão minhas palavras perdidas...
selaria os meus lábios o secreto amargor.

Pablo Neruda

POEMA NUMERO 15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e minha voz não te toca.
Parece que teus olhos houvessem saltado
e parece que um beijo fechara a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias de minh'alma
emerges das coisas cheia de alma, a minha.
Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,
como pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como a queixar-te, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:
permite que eu me cale com teu silêncio agudo.

Permite que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada e simples como um elo.
Tu és como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, afastado e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se estivesses morta.
Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.
E fico alegre, alegre porque a verdade é outra.

Pablo Neruda

" Nós perdemos também este crepúsculo.
Ninguém nos viu à tarde com as mãos unidas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Vi, de minha janela
a festa do poente nos montes distantes.

Às vezes, qual moeda,
acendia-se um pouco de sol em minhas mãos.

Eu te recordava com a alma apertada
por esta tristeza que conheces em mim.

Então, onde estarias ?
Junto a que gente ?
Dizendo que palavras ?
Por que há de vir todo este amor de um golpe
quando me sinto triste e te sinto distante ?

Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo,
e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
até onde o crepúsculo corre apagando estátuas."

domingo, março 09, 2008

...

Se você apenas fosse embora
O que eu realmente poderia dizer?
Isso importaria de qualquer maneira?
Isso mudaria o que você sente?

Eu sou a confusão que você escolheu
O armário que você não pode fechar
O diabo em você, eu suponho
Porque as feridas nunca se cicatrizam

Mas tudo muda
Se eu pudesse voltar os dias
Se você pudesse aprender a me perdoar
Então eu poderia aprender a sentir

Às vezes as coisas que eu digo
Em momentos confusos
Cedem aos jogos que nós jogamos
Para ter certeza que isso é real

Quando é apenas você e eu
Quem sabe o que nós podemos fazer
Se nós podemos apenas superar
Superar essa parte do dia

Então nós poderíamos
Ficar aqui juntos
E nós poderíamos
Conquistar o mundo
Se nós pudéssemos
Dizer isso para sempre
É mais do que apenas uma palavra

Se você apenas fosse embora
O que eu realmente poderia dizer?
Isso não importaria de qualquer maneira...

Pablo Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu o amei, e às vezes ele também me amou.
Em noites como esta eu o tive entre os meus braços.
Beijei-o tantas vezes sob o céu infinito.
Ele me amou, às vezes eu também o amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não o tenho. Sentir que o perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ele.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-lo.
A noite está estrelada e ele não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta.
Ao longe. Minha alma não se contenta com tê-lo perdido.
Como para aproximá-lo o meu olhar o procura.
Meu coração o procura, e ele não está comigo.
A mesma noite qeu fez branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não o amo, é verdade, mas quanto o amei.

Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não o amo, é verdade, mas talvez o ame.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu o tive entre os meus braços,
a minha alma não se contenta com tê-lo perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ele me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

sábado, março 08, 2008

Carlos Drummond

Consolo na Praia

Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te - de vez - nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

...

A CARTA

peço que evite transitar por onde meus olhos possam alcançá-lo
peço também que evite me dirigir a fala
ou qualquer tipo mais efusivo de cumprimento;
no máximo um levantar de sobrancelhas
se puder abaixe o tom de sua voz caso eu esteja próxima
peço ainda que não chame meu nome,
exceto em caso de incêndio

peço tudo isso humildemente, na verdade suplico
você não tem idéia da devastação
que provoca em meu espírito
as mínimas coisas que faz
de tal forma que nada mais é mínimo
parece calculado com exímia arte e perícia
cada seu movimento, cada gesto

você não sabe quantas horas preciso para ler três linhas no dia em que você sorri, e nem precisa ser pra mim

você não imagina os malabarismos que faço
para não ser notada e assim te seguir
pela janela do olhar escondida atrás de toneladas de paixão

ah! se você soubesse o tempo que fico imaginando você, sua voz, seu cheiro
seu andar, recompondo sua imagem de maneiras incontáveis
eu sei você de cór, mas todo dia você me surpreende

mas desejá-lo é um sonho
para despistar a dor invento-lhe defeitos
mudo sua imagem no fotoshop do meu coração
mas o original persiste e zomba de mim
de meus esforços para tentar
te esquecer em vão

então resolvi escrever-lhe esta carta
para pedir-lhe que pare, mas agora me dou conta: parar com o quê?
pois,ainda que você não fizesse nada
basta existir pra que eu me sinta completa,
completo não por tê-lo
mas somente por desejá-lo
você pode nunca vir a me amar
mas, eu sei que meu desejo,
meu sentimento, meu motivo de ser,
minha dor e meu remédio
minha manhã de sol e meus vendavais
meu nascer e minhas mortes
minha seca e meus rios
meu silêncio e minha canções
só existem por você ...

sexta-feira, março 07, 2008

Farewell

Farewell

1
Do fundo de ti, e ajoelhada,
Uma criança triste, como eu, nos olha.

Por essa vida que arderá nas suas veias
teriam que se amarrar as nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas mãos
teriam que matar as minhas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra
verei nos teus lágrimas um dia.

2
Eu não o quero, amado

Para que nada nos amarre,
que não nos una nada.

Nem a palavra que aromou da tua boca,
nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto a janela.

3
(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e vão-se embora.

Deixam uma promessa
Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e vão-se embora

Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar)

4
Amo o amor que se reparte
Em beijos, leito e pão

Amor que pode ser eterno
e pode ser fugaz

Amor que quer se libertar
para tornar a amar.

Amor divinizado que se aproxima
Amor divinizado que se vai.

5
Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui tua, foste meu. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui tua, foste meu. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.


Pablo Neruda

Pablo Neruda

"Para o meu coração basta o teu peito,
para que tu sejas livre bastam minhas asas.
Da minha boca chegará até o céu,
o que adormecido estava em tua alma."

Pablo Neruda

SE VOCÊ ME ESQUECER

Quero que você saiba uma coisa
Você sabe como é:
Se eu olhar a lua de cristal, pelo galho vermelho
do lento outono em minha janela,
Se eu tocar, próximo ao fogo, a intocável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva a você,
como se tudo o que existe: perfumes, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
rumo às tuas ilhas que me esperam.

Bem, agora,
se pouco a pouco você deixar de me amar
eu deixarei de te amar, pouco a pouco.

Se, de repente, você me esquecer
não me procure
pois já terei te esquecido.

Se você considera longo e louco
o vento das bandeiras
que passa pela minha vida,
e decide me deixar na margem do coração em que tenho raízes,
lembre-se que neste dia, nesta hora,
levantarei meus braços
e minhas raízes sairão a buscar outra terra.

Mas
Se cada dia, cada hora,
você sentir que é destinado a mim
com implacável doçura,
se cada dia uma flor
escalar os teus lábios a me procurar,
ah meu amor, ah meu próprio eu,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem é esquecido
meu amor se nutre no seu amor, amado,
e enquanto você viver, estará você em seus braços,
sem deixar os meus.

Pablo Neruda

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
Já não se adoçará junto a ti a minha a dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
E para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
Uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
Daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.

domingo, março 02, 2008

Fernando Pessoa

"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes.
E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos.

Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos."

Caio Fernando Abreu

"Todas as noites, um segundo antes de afundar, pensava — onde quer que você esteja, meu príncipe, em qualquer região da minha mente, no mínimo interstício, na fímbria do pensamento, frincha da memória, dobra da fantasia, faixa vibratória passada presente futura, aqui vou eu ao seu encontro, meu bem amado. E nada. "

( Ovelhas Negras > KÊN > Onírico)

Caio Fernando Abreu

"Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, ou até um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará."

Pálpebras de Neblina - Pequenas Epifanias.

Caio Fernando Abreu

"Ela não queria entrar noutra história, porque doía. Ele não queria entrar noutra história, porque doía. Ela tinha assumido seu destino de Mulher Totalmente Liberada Porém Profundamente Incompreendida E Aceitava A Solidão Inevitável. Ele estava absolutamente seguro de sua escolha de Homem Independente Que Não Necessita Mais Dessas Bobagens De Amor."

Mel e girassóis