sexta-feira, março 07, 2008

Farewell

Farewell

1
Do fundo de ti, e ajoelhada,
Uma criança triste, como eu, nos olha.

Por essa vida que arderá nas suas veias
teriam que se amarrar as nossas vidas.

Por essas mãos, filhas das tuas mãos
teriam que matar as minhas mãos.

Pelos seus olhos abertos na terra
verei nos teus lágrimas um dia.

2
Eu não o quero, amado

Para que nada nos amarre,
que não nos una nada.

Nem a palavra que aromou da tua boca,
nem o que não disseram as palavras.

Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto a janela.

3
(Amo o amor dos marinheiros
que beijam e vão-se embora.

Deixam uma promessa
Não voltam nunca mais.

Em cada porto uma mulher espera:
os marinheiros beijam e vão-se embora

Uma noite se deitam com a morte
no leito do mar)

4
Amo o amor que se reparte
Em beijos, leito e pão

Amor que pode ser eterno
e pode ser fugaz

Amor que quer se libertar
para tornar a amar.

Amor divinizado que se aproxima
Amor divinizado que se vai.

5
Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui tua, foste meu. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui tua, foste meu. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança.
E eu lhe digo adeus.


Pablo Neruda

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