quarta-feira, março 12, 2008

Pablo Neruda

DESDE QUE TU TE FOSTE...
(de O Rio Invisível - tradução de Rolando Roque da Silva)

Desde que tu te foste, experimento a amargura
infinita de haver-te calado tantas coisas:
de haver calado, mártir, esta branda ternura
que ocultei como é possível ocultar as rosas,

e de não te haver dito as palavras fragrantes
que eu trazia na boca cuidadas e submissas;
que esperei tantas vezes deixar sair vibrantes
mas sempre se gelaram num perverso sorriso.

Agora que te foste sofro o pesar intenso
de haver calado, mártir de mim mesmo, o imenso
tesouro de doçura que floresceu em amor.

Mas sei que se voltasses um dia à minha vida,
ao procurar em vão minhas palavras perdidas...
selaria os meus lábios o secreto amargor.

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