quarta-feira, março 12, 2008

Pablo Neruda

POEMA NUMERO 15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, e minha voz não te toca.
Parece que teus olhos houvessem saltado
e parece que um beijo fechara a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias de minh'alma
emerges das coisas cheia de alma, a minha.
Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,
como pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como a queixar-te, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:
permite que eu me cale com teu silêncio agudo.

Permite que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada e simples como um elo.
Tu és como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, afastado e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se estivesses morta.
Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.
E fico alegre, alegre porque a verdade é outra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário