terça-feira, fevereiro 19, 2008

Caio Fernando Abreu

Tenho a boca afiada de punhais,
mas não choro
Olho os faróis com duros olhos
ardidos de quem tem febres,
mas não sangro
As mãos vazias deixam passar o vento
lavando os dedos que não se crispam,
mas não há palavras, nem mesmo estas
O único sentido de estar aqui
é apenas estar secamente aqui
cravado como um prego
em plena carne viva da tarde

17.07.1980

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