sexta-feira, setembro 19, 2008

"Não há coincidências" - trecho

(...) Tudo corria sobre rodas até à entrada do Victor Lopes. O Victor Lopes tinha a mania de que era engatatão e fez o circuito das meninas da redacção até empancar em mim. Nem alto nem baixo, tinha o charme barato típico dos gajos que sobem a pulso e não olham a meios para atingir os fins. O maior problema não foi dar-lhe uma tampa, foi ter de lhe dar várias. A primeira vez que deu o ar da sua graça estávamos na cantina e resolveu tecer comentários sobre as minhas pernas.

Expliquei-lhe com calma que não achava a conversa apropriada, ele pediu desculpa e calou-se. Nessa mesma noite, depois do telejornal acabar, descemos no mesmo elevador até à garagem e resolveu adoptar a táctica do ataque frontal. Encostou-se a mim, estava eu a enfiar a chave na fechadura para abrir o carro e começou a arfar e a dizer coisas sem nexo. Não há dúvida que os homens entre os quarenta e os cinquenta ou apuram ou abandalham. Como este não tinha como apurar, abandalhou. Tive que lhe dar um encontrão e a partir daí as coisas foram-se progressivamente complicando.

O tipo nunca mais me largou. Pedia-me para fazer peças que ele próprio sabia que não iriam para o ar, criticava sistematicamente o meu trabalho em alto e bom som para me vexar diante de toda a redacção e fazia tudo para me retirar a pouca confiança que tinha como jornalista.

O José António tentou várias vezes proteger-me, mas o Victor estava decidido a acabar comigo. Quando o José António foi para a concorrência com um contrato milionário, fiquei sem apoio.

Há uma amiga minha jornalista que diz que nas redacções dos canais de televisão anda metade a fo... com a outra metade e quem não fo... ninguém está fo... Era o que eu estava. O tipo ia acabar comigo de qualquer maneira.

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