sexta-feira, novembro 14, 2008

Afoguei de vez qualquer vontade de fingir ou mentir ainda outro dia destes - quando ouvi alguém já de certa idade falando que a vida não tem sentido e que cobrar da vida suas conquistas ou chances, depende de onde você se encontra perambulando, era um erro deslavado. Que a vida nunca garantiu e prometeu nada a ninguém. “Não cobre nada”, dizia ele.

Honestamente, não foi difícil enxergar a partir desta idéia que não há o mínimo e mais fodido sentido em viver se não for pra viver ainda mais, se não for pra deixar as cobranças, esperanças e as preocupações todas afogadas em movimento - em bruto movimento.

Em outras palavras, ele dizia que toda memória, experiência e imaginação que passam pela sua carne não ganham sentido do lado de fora. Elas são o próprio sentido! Poderia ter dito de maneira sonora algo como, sabe-se lá, "destino é uma palavra que aparece de dentro dos seus gestos". Mas fez melhor, uma dura: "Não cobre nada da vida".

Isso também me ajudou na decisão de deixar a minha vida ir embora.

"Pense que é por ele - e faça por você." - dizem os colegas e os amigos.
O problema é não saber e não conseguir separar o que sou eu e o que é ele - quando tudo que há em mim é dele e por ele.

E ontem, ao ser indagada o por que de estar gravado "vida" ao invés do nome no meu celular - não soube o que dizer e e na verdade, ainda não sei. Sei bem o que todo mundo sabe e o que todo mundo vê: fiz dele a minha vida. Eu respirava, lutava, sonhava, suportava, ansiava, planejava, sorria, aguardava e levantava todos os dias porque ele era a minha vida. E agora, carrego-me morta pelas ruas e não é difícil perceber que a "vida" ( no duplo sentido) se perdeu - restando-me agora a dor e a confusão de nada mais entender.

(deveria encarar as sombras e renascer novamente?)

Vejo sim que estava fechando-me em meu desespero em tentar acertar e o que fazia, provavelmente, já não tinha mais nada de meu - tudo era dele. Tinha dúvidas tanto de um lado como de outro. Deveria procurar forças para continuar na luta ou esquecer o mundo (terrível meta que vez por outra impunha como saída)? Sensatamente, eu diria nem tanto ao céu, nem tanto à Terra – em outras palavras, sou ótima para dar conselhos - mas extremamente emocional e nada razoável ao tratar dos meus sentimentos.

Sei que estou voltando a minha antiga maneira de lidar com as coisas - isolando-me de tudo e de todos. E a quem culpar? Penso em culpar o precário mundo em que vivemos - cheio valores errados ou mesmo inexistentes- a falta de educação social ou a quem deu-me o sorriso para tirar logo após (e isso recentemente surge na minha cabeça com frequência...)

Sei bem que procuro ainda meus modelos para viver – tenho medo da minha própria e extraordinária capacidade de dar às costas para o mundo (e esquecer que o que espero dos outros é esperado, também, de mim). Preocupa-me não fazer parte na mesma medida em que preocupa-me fazer parte. Essa coisa de modelo, parte e todo sugere-me, novamente, a precária educação social e a falta de valores que temos... Aqui posso mencionar que – concluí isso apenas depois de algum tempo – independente do que eu trago comigo, penso oferecer (sempre os outros - chego a ter a sensação de uma vaga na altura do estômago) o que faço sobre o que trago comigo... confuso?

Sim, confuso. Porque aqui nada restou além da confusão... A que nível de estupidez eu própria preciso chegar para conseguir viver uma história? Se há uma coisa que me deixa louca, é isso: colocar-me ao lado (ou no lugar) de um idiota apenas para ter a certeza de que é um idiota. Um dia deixo de desconfiar dessa minha intuição...

Depois de tanta filosofia em plena sexta feira, fica a poesia:

"Eu
Eu penso sozinha
Eu discordo
Para chegar ao imenso avanço até aonde não sei mais nada ali sobre mim
Mas já ouvi alguma assim
Com um pouco de sem sentido esse isso é, com certeza, um pouco meu
Sou eu
E dá vontade de olhar para você e dizer uma coisa, de verdade, sublime
Uma como: - O sublime custa caro"

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