"O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho ! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.
Porque o meu Reino fica para além ...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os ouros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !
O mundo? O que é o mundo, ó meu amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor ...
A seara dos teus beijos, pão bendito ...
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços ...
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito. "
"Se me ponho a cismar em outras eras
em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim! "
"O meu Destino disse-me a chorar:
"Pela estrada da Vida vai andando;
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Amor, que hás de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar,
As contas do meu sonho desfilando...
E noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho,
Viste o Amor acaso em teu caminho?"
E o velho estremeceu... olhou... e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos pra trás, desanimados..."
"Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?…
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?… Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim! "
"Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!
E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me da beber a Mágoa no seu leite!
Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!
Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!... "
"Sou uma cética que crê em tudo,
uma desiludida cheia de ilusões,
uma revoltada a aceitar sorridente todo o mal da vida,
uma indiferente a transbordar de ternura.
Grave e metodica até a mania,
atenta a todas as sutilezas de um raciocinio claro de lúcido,
não deixo de ser no entanto uma espécie de Dom Quixote fêmea a combater moinhos de vento,
quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida,
num dom de mim própria que não acaba,
que não desfalece
que não cansa.
nada me chega...nada me convence...
nada me basta..."
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